Escrito em: 2020-05-01
A saúde individual e pública dos portugueses tem sido o principal tema de notícia nestes meses de pandemia. No entanto, e apesar desta abundância de informação, será que conhecemos a fundo o estado da saúde das empresas portuguesas em tempo de pandemia?
É crucial que as organizações públicas e privadas estejam preparadas para a COVID-19 e que se adaptem a este novo mundo de teletrabalho e de normativas quase diárias para evitar o contágio. A questão impõe-se: como podem os empresários, sem um apoio consistente da Medicina e Segurança no Trabalho, gerir colaboradores e um regresso seguro ao trabalho?
Nesta era global, algo microscópico como um vírus é capaz de se alastrar a um ritmo alucinante. A pandemia da COVID-19 causou uma paralisação social e económica sem precedentes e revelou a fragilidade do sistema corrente. A crescente globalização, a destruição da diversidade biológica, o consumismo compulsivo, o stress do dia a dia e o capitalismo desenfreado adormeceram abruptamente. Dizem que o mundo não para, mas parou. E mudou para sempre.
A transformação digital impôs-se em vários sectores de atividade de forma súbita, afetando todos, independentemente da idade, classe económica ou literacia digital. O online passou a ser regra e as relações interpessoais não mais serão as mesmas.
Dado este novo cenário, tentámos perceber junto das empresas como estas se estão a adaptar à crise e quais os principais desafios e limitações em termos médico-laborais. Quisemos saber como gerem os seus colaboradores e equipas para evitar o contágio, sem perder atividade e operância, que responsabilidades médicas e legais têm que enfrentar e se os seus planos de contingência são operacionais.
O inquérito lançado ao tecido empresarial nacional – público e privado – revelou um elevado grau de insegurança dos gestores em diversos temas médico-laborais, onde pudemos concluir que até as empresas, que se presumem preparadas, não possuem toda a informação para proceder corretamente e precisam de mecanismos práticos para abordar este novo paradigma.
Estes resultados tornaram-se objeto de um ebook médico-jurídico pioneiro realizado por uma equipa de médicos e advogados. A intenção é colmatar as necessidades sentidas pelas empresas, contribuindo para a manutenção da atividade das empresas, através da redução de contágio em ambiente laboral e da prevenção de problemas legais.
Serão múltiplos os desafios e sequelas desta crise. Somos forçados, dado este inédito panorama, a antever os possíveis novos paradigmas de um mundo empresarial pós-COVID-19:
• ser necessário para os colaboradores ter um certificado de imunidade para retomar a sua vida normal profissional
• serem atribuídos às empresas selos de certificação quando a sua taxa de colaboradores infetados ou de quarentenas compulsivas da empresa é mínima, sendo atestadas como empresas saudáveis e seguras
• ser necessária uma atualização constante dos planos de contingência segundo as diretrizes recomendadas e conforme a reorganização do trabalho
• as organizações aumentarem a sua literacia em saúde e não dispensarem o apoio da Medicina do Trabalho e Técnicos de Segurança como parte fundamental na gestão do negócio
• verificar-se um aumento definitivo do teletrabalho e da flexibilização do trabalho, sendo as relações pessoais presenciais altamente selecionadas
• as organizações públicas e privadas, tal como as conhecemos, entrarem numa disrupção tecnológica sem precedentes
• as empresas mudarem a sua identidade e cultura institucional
Mais que nunca, confrontados com um futuro altamente incerto, é crucial preparar-nos e mantermo-nos informados. Com compromisso, engenho, otimismo e perseverança confirmaremos o velho adágio, This too shall pass.
Médica coordenadora da Honnus